Época de Pandemia


O ar estava gélido na cidade de Capitania, interior de São Paulo. Os supermercados com a entrada controlada por causa da Pandemia que já tinha atingido todos os continentes. Existia um fator de risco: idosos e, principalmente fumantes. No começo, os governos tentaram impedir a circulação das pessoas. Em 2 anos, 50% da população já tinha sido infectada.

Uma mudança drástica no clima: estava mais frio. O planeta parecia respirar aliviado, como se estivesse sendo desinfectado. Aos poucos, a humanidade que castigava a Terra estava sendo varrida.

Felipe, um jovem de 25 anos passeava pelo mercado com a máscara que sua mãe havia feito, estampado o seu apelido carinhoso “Hunfinho”. Percebeu que não havia mais papel higiênico no mercado, logo o que ele mais precisava, já que enfrentava uma crise de diarreia há cinco dias. Comprou algumas coisas banais e percebeu que não tinha mais carne de frango.

Voltou para casa em sua Monarq azul claro. As ruas estavam vazias, o que era estranho para o Natal. Mas o mundo estava diferente nos últimos anos. Colocou a mão na barriga:

- Caralho, vou cagar nas calças. - desceu da bike cair no chão e correu para o banheiro.

Sentiu-se aliviado, cada pequena dor, ele continuava cagando. Tomou um banho, já que não tinha mais papel. Pegou um chá de Hortelã, jogou a camisa no chão e ligou a Televisão.

O Plantão da TV Nova tinha acabado de começar. O âncora do Jornal, José Nascimento estava pálido:

- Milhares de pessoas foram encontradas mortas no banheiro de suas casas em São Paulo. Os números não param de crescer. Até o momento, todas estavam infectadas com o Vírus. Em breve, voltaremos com mais informações.

Felipe gelou, desligou a Televisão, sentiu uma dor na barriga e voltou ao banheiro. Sentiu um alívio profundo, mas aos poucos foi perdendo as forças. Seu rosto caiu sobre o peito e estava morto.

Um barulho estranho no cano da privada. Na zona de tratamento da cidade, algo bizarro aparecia, vários óvulos do tamanho de uma bola de futebol. Já não havia mais ninguém ali. Os óvulos estouraram um a um e deles saíam seres estranhos, rudimentares. A cabeça era enorme, o corpo esguio.

Sobraram poucos seres humanos. Mas nunca mais tornaram-se novamente a espécie predominante. Tiveram a sua chance e trataram o planeta com desprezo. A Terra mais uma vez respirou.


Conto de Reinaldo Del Trejo.

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